Carlos Simão Matsinhe (nascido em 2 de Outubro de 1954 em Homoine província de Inhambane) é um bispo anglicano moçambicano e o primeiro Arcebispo da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola – IAMA. Ele é o 11º bispo anglicano da Diocese dos Libombos – Moçambique, e o segundo desta Diocese nascido em Moçambique.
Como o líder simbólico da Igreja Anglicana em Moçambique, Dom Matsinhe destacou-se no trabalho de coordenação e criação de novas dioceses juntamente com três outros bispos: Dom André Soares de Angola, Dom Manuel Ernesto da Diocese Missionária de Nampula e Dom Vicente Msosa da Diocese do Niassa.
Em Moçambique, foram criadas cinco novas dioceses, elevando o número para oito, e em Angola criaram-se três novas dioceses, elevando também o número para quatro. São estas doze dioceses Anglicanas de expressão Portuguesa que formam a Igreja Anglicana de Moçambique e Angola (IAMA), a 42ª Província da Comunhão Anglicana. Seu trabalho moldou significativamente a estrutura e o alcance da igreja na região e na Comunhão Anglicana.
Primeiros anos e educação
Matsinhe nasceu em Homoine, Moçambique, e foi educado em uma escola missionária católica romana da sua terra natal (Hobo-Cambane), Missão de São João de Deus de Homoíne, e depois na Missão Anglicana de Maciene. Posteriormente, com o apoio da Diocese liderada por Dom Daniel Pina Cabral, ele frequentou o Ciclo Preparatório na Escola Comercial e Industrial Vasco da Gama (atual Eduardo Mondlane) e o Colégio Nossa Senhora da Imaculada Conceição (atual Emília Daússe) em Inhambane. Matsinhe seguiu seus estudos em Teologia e formou-se para o sacerdócio no Seminário Anglicano de São Marcos em Dar-es-Salaam, afiliado à Universidade de Makerere University, de 1975 a 1979, a primeira universidade do Leste da África, de onde obteve um Diploma em Teologia.
Ministério
Matsinhe foi ordenado diácono em 4 de fevereiro de 1979 pelo Reverendíssimo Dom Dinis Sengulane, então Bispo dos Libombos. Neste período, também trabalhou como técnico de tempos na Mabor General de Moçambique, fábrica estatal de pneus. Ele foi ordenado sacerdote em 6 de janeiro de 1980 e, subsequentemente, nomeado pároco a tempo pleno da paróquia de Santos Estêvão e Lourenço em abril de 1980. Nesta altura, também desempenhou o papel de capelão da Missão aos Marinheiros e capelão da Juventude Anglicana dos Libombos, além de docente no seminário teológico local.
Dom Matsinhe é também reconhecido pelo seu papel de coordenador da rede das escolas comunitárias da vasta Diocese dos Libombos – Moçambique desde 1988. Na mesma altura, iniciou o primeiro Centro de Reabilitação de Crianças de Rua na cidade de Maputo. Este centro fornecia abrigo, educação e reintegração para crianças de rua, treinando-as em fabricação de sabão, costura, batique, artes visuais e escolarização formal, para além de reintegração dessas crianças junto de suas famílias ou famílias cuidadoras. O centro operou por quase 25 anos, tendo causado impacto substancial na vida de muitos jovens talentosos, que hoje são cidadãos ativos e talentosos, com família e profissões. Exemplo dos grandes pintores correntes moçambicanos, REFO é um dos muitos sucessos tangíveis desta iniciativa de Matsinhe com a sua paróquia.
Como director das escolas comunitárias Anglicanas, interagiu com o Ministério da Educação para a formalização e atribuição de alvarás para o funcionamento deste tipo de ensino particular dirigido pela igreja. Em colaboração com a DanChurchAid, organização cristã e dinamarquesa, Dom Matsinhe mobilizou fundos e coordenou a construção da Escola Anglicana de São Cipriano em Maputo sob tutela de Dom Dinis Sengulane, então Bispo dos Libombos. Esta instituição, com capacidade de acomodar até 1.400 alunos em dois turnos diários por ano, catalisou o trabalho educacional da Igreja na cidade de Maputo, com extensão na cidade da Matola, paróquia de São Marcos Da Matola, que é também hoje uma escola de nível secundário.
Como pároco, ele conduziu três missas dominicais semanais, nomeadamente da comunidade da língua Changana, Portuguesa e Inglesa, para além de servir em outras três congregações (São Benedito de Malhangalene, Santa Maria de Trevo e congregação das Bem-Aventuranças da Costa do Sol). Além disso, ele liderou a comissão de tradução da liturgia Anglicana para o Xitswa, sua língua materna.
Dom Matsinhe foi também um servidor a longo tempo do Conselho Cristão de Moçambique, como presidente da comissão dos projetos, emergência e desenvolvimento, desde 1983 até finais de 1990, contribuindo assim para a promoção do trabalho ecumênico nacional e também ao nível mais global, pois foi membro do Africa Regional Group (Grupo da Região da África) do Conselho Mundial das Igrejas. Sob a alçada da FOCCESA – Fellowship of Christian Councils of Southern Africa, Dom Carlos co-dirigiu o trabalho de apoio aos refugiados moçambicanos em países vizinhos, como vice-presidente do comité de apoio, trabalho que no pós-guerra se transformou no Programa RRR (Repatriamento, Reintegração e Reconstrução) ligado ao Conselho Cristão de Moçambique.
Nomeado Deão da Catedral em 1998, seguiu para trabalhar na Catedral do Santo Agostinho da Diocese Anglicana de Maciene, onde também, para além de servir como decano dos presbíteros, contribuiu para a revitalização daquele centro espiritual e educacional.
Entre as várias tarefas, mobilizou recursos para a reabilitação massiva do edifício Catedral e outros edifícios da missão, incluindo a reabilitação e aumento das salas para a escola local, construção do Centro de Formação Cristã, Escola de Formação Profissional e Centro de Artes Paulo Mabumo, com o apoio de vários parceiros.
Ele preocupou-se também em melhorar as condições de segurança social para os padres, trabalhando em estreita colaboração com vários parceiros da Diocese, como por exemplo a St John’s Episcopal Church, Essex CT, Connecticut, ALMA London, MANNA – Mozambique and Angola Anglican Association, USPG, Anglican Alliance, Twyford School, a Diocese de Västerås stad – Suécia e outros, para além de parceiros nacionais como a FDC – Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade e JHPIEGO (Johns Hopkins University). Hoje, Maciene goza de uma Escola Secundária que beneficiou da dedicação de Dom Matsinhe.
Durante seu mandato de dez anos como Bispo dos Libombos, sua prioridade foi o fortalecimento da Igreja, dando mais responsabilidade e auto-sustentabilidade às paróquias através do ensino, contribuição de fundos locais de recursos e boa administração, o que resultou no estímulo de construção de melhores edifícios de culto com esforços locais.
Ele trabalhou diligentemente com o Arcebispo Anglicano Sul-Africano da Cidade do Cabo, Sua Graça Archbishop Thabo Makgoba, levando à criação das dioceses de Maciene, Inhambane, Sofala, Púngue, Tete, Zambézia e Nampula, além das dioceses já existentes de Lebombo e Niassa. É no contexto destas experiências que Dom Matsinhe acabou sendo designado Bispo Presidente ou Primaz e Arcebispo da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola – IAMA para dirigir as transformações mais recentes da Igreja Anglicana de Moçambique e Angola, e lhe foram investidos em 2021 os poderes de formar e inaugurar dioceses, dirigir assembleias eleitorais de bispos e consequentemente consagrá-los e colocá-los em seus ofícios. A Igreja conta com nove bispos, incluindo uma bispa que ele mesmo consagrou. E deixa uma província com uma liderança episcopal suficientemente estabelecida.
Neste momento da reforma, Dom Matsinhe faz a transição de uma vida de liderança ativa para uma de reflexão pessoal, continuação da pregação do evangelho e serviço como qualquer cristão é chamado a fazer. Ele permanece comprometido com as causas que lhe são queridas, de uma forma mais privada e moderada.
O legado de Dom Matsinhe é de promoção de espiritualidade, educação, criação e aplicação de instrumentos normativos da Igreja e construção de uma igreja e comunidades baseadas no amor a Deus e ao próximo. Trabalho feito no meio de diversos desafios.
Como ele disse na sua homilia inaugural em 2014, que pretendia pastorear o rebanho com amor e não pelo poder, nem pela força, mas pelo espírito de Deus.
Decorrendo desta experiência, Dom Matsinhe celebra a jubilação e ação de Graças a Deus e ao povo de Deus num culto público a 14 de Julho de 2024, no Pavilhão do Maxaquene, Cidade de Maputo.